Ao longo da minha vida, não muito longa, tive experiências variadas em relação à amizades masculinas. No início da adolescência, achei que eu era amiga de um grupo de meninos da escola, até porque falávamos sobre tudo, eu conversava como um deles. Falavam sobre beijar meninas? Eu falava também. Faziam piadas sobre sexo e futebol? Eu fazia também. Jogavam videogame? Eu jogava também.
O que eu descobri depois de um tempo é que não bastava fazer o que eles faziam, ter gostos em comum nunca foi, nem nunca seria, o suficiente. Eu não tinha o principal: ser homem.
A ingenuidade da adolescência não me permitiu ver que ao fazer tudo isso eu não era vista como uma boa amiga ou sequer uma pessoa agradável, eu era apenas uma mulher mais próxima, sendo assim, mais fácil de pegar.
Depois dessa desilusão, a vida me presenteou com boas amigas que me permitiram aceitar que eu não precisava moldar minha personalidade para ser amada. Amigas que genuinamente se interessam pelos meus interesses e vibram pelas minhas conquistas.
Agora, eu tinha minha própria personalidade e me sentia confortável mostrando-a para o mundo.
Mas com o passar do tempo, voltei a me iludir. Já sou crescida, pessoas crescidas podem ter amizades com quem quiserem, não estamos na escola.
E, assim, voltei a ter amigos homens. O que por muito tempo não foi um problema, passei um longo período namorando, fator que afastava qualquer possibilidade de interesse romântico.
Era mágico ver que homens se interessavam na minha companhia apenas pelo o que eu tinha a dizer. Debatíamos ideais, trocávamos indicações de leitura, dicas sobre a vida adulta, experiências pessoais, relatos sobre a experiência feminina… Parece uma amizade verdadeira para mim.
Entretanto, sempre vai ter algo que vai te lembrar que homens serão homens.
Apesar de estar inserida em um ótimo grupo de amigos, com saídas semanais e momentos agradáveis, são nos momentos de conflito que a realidade vem à tona. Em duas situações conflituosas muito similares no grande e unido grupo de amigos, a divisão ficou clara. Quando o expoente da briga foi uma mulher, magicamente, esqueciam de convidá-la para as saídas e até mesmo omitiam convites quando ela estava por perto. Já quando foi um homem… Poucos dias depois ele estava de volta em todas as ocasiões, até porque “Nós somos amigos há anos, valorizo demais a amizade dele para deixar estremecer por uma bobagem dessas”. Aí eu percebi.
O peso da amizade é diferente. Nesses grupos, a presença de mulheres nunca é desejada, ela é tolerada de acordo com sua utilidade. “Maria sempre está nas nossas saídas” namorada de alguém. “Ana é super engraçada” porque você quer ficar com ela. “Adoro ser amigo da Luiza” porque sempre dá festas na casa dela. A presença de mulheres no círculo social sempre ocorria como extensão de um homem.
Foi um banho de água fria descobrir que no momento que eu ficasse solteira a dinâmica de algumas amizades muito caras para mim mudaria completamente. Não tem nem um mês que terminei meu namoro, mas a chave já foi virada para alguns dos meus amigos. “Carol” agora passou a ser “princesa”, “boneca”, “linda”. O que antes eram convites para saídas em grupo, agora viraram convites para encontros à sós. As conversas não são mais sobre nossos interesses em comum, e sim sobre como eu sou bonita e “merecia um cara melhor”. Você realmente acha que é O Cara Melhor?

Me dá náuseas pensar que eles só estavam ali esperando o momento certo, que nenhuma de nossas conversas foi de fato vista como interessante. Pensar que em algum momento eles me viram como uma pessoa e não como uma mulher.
Eu espero pelo momento que não precisarei me sentir culpada por dar fora em algum amigo, não precisarei ter medo de “dar brecha”, e não ficarei receosa em me expressar por pensar que estão ouvindo só para me beijar depois.
Mas ainda há salvação, como eles gostam de dizer, não são todos os homens. Só todos que conheci.
Para finalizar bem essa news, quero agradecer todas as 72 pessoas que escolheram receber meus E-mails. Muito obrigada por abrirem vossas caixas de correio!
"Não são todos os homens. Só todos que conheci." Considere a frase roubada. Vou levar pra vida :')
primeiramente, senti vontade de falar certas coisas sobre esses amigos ai, mas vou segurar. e segundamente, queria te dizer para realmente não perder a esperança, eu prometo que é possível encontrar os decentes. eu encontrei alguns ao longo dessa vida, e acho que talvez seja meio necessário mesmo passar por "provações" para a gente se sentir segura 100% na relação com amigos homens. um grande amigo meu se apaixonou por mim no nosso primeiro ano de amizade, e eu amava ele mas não desse jeito então deixei isso bem claro. ele não se afastou, continuou meu amigo, nunca fingiu não sentir o que sentia, e eu me mantive amando ele do meu jeito. eu acho que a diferença clara entre outros que demonstraram desejo e eu me afastei foi exatamente essa: ele literalmente se *apaixonou* por quem eu era, e isso ficou muito claro. depois de um tempo, o sentimento se foi, e continuamos grandes amigos até hoje. ele me inspira, eu inspiro ele. temos conversas profundas de vez em quando, nos encontramos quando dá (cidades diferente), trocamos vídeos de gatos e dança no instagram. temos uma amizade solida, que eu não tenho medo de perder.
outro amigo eu conheci no online em um clube do livro, ele veio falar comigo com altas perguntas e interesse em saber o que eu pensava sobre várias coisas. esse tipo de coisa sempre me deixa com um pé atrás, mas ai eu descobri que ele estava fazendo isso com todo mundo do clube (pequeno), e que ele honestamente estava atrás de amizades. ele nos ensinou a jogar rpg, e conversávamos todos os dias, inclusive sobre coisas que eu nunca tive muita abertura para conversar com mais ninguém. ele é de outro estado, então quando o clube combinou de ir na bienal juntos, eu ofereci de ele ficar em casa comigo. ele veio, me deixou 100% na minha em casa, me fez assistir séries com ele, mas quando eu decidia ir ler algo ou só ficava quieta, ele ia fazer outra coisa no quarto de hóspedes. a gente conversa sobre ter um sítio no futuro, e sobre como ele vai poder vir me incomodar no meu apartamento quando eu tiver um (e quando ele se mudar para minha cidade). nada sobre nossa relação é romântica, nunca foi e nunca será, mas a gente ainda tem planos futuros de convivência, e isso me agrada profundamente.
ler seu texto me fez lembrar como eu amo esses homens com todo meu serzinho, por isso quis te contar um pouco deles <3 estava com saudades de ler seus textos!! feliz de novamente estar aqui conversando com você!