Queria sair de mim
Mas onde eu ia, eu tava...
Não sei se vocês acreditam em signos, eu acredito só porque o meu signo é o melhor de todos. Exatamente o que uma pessoa de Leão diria. E, assim como as caricaturas dos leoninos, eu me acho a pessoa mais legal do mundo.
Por uma questão de probabilidade, não devo ser. Tem muita gente no mundo. Apesar disso, acho minha pessoa interessantíssima, afinal, fui eu que moldei ela assim.
Alguns dizem que é importante se amar, eu concordo. O grande problema de se ver dessa forma é que, uma hora ou outra, você será confrontado com a visão do outro sobre si mesmo. E, infelizmente, ninguém me ama ou me conhece da forma como eu conheço.
Me incomoda apreciar detalhes sobre mim que na maioria das vezes passam despercebidos aos olhares externos. Não deveria, me sinto um pouco culpada por a minha própria satisfação não me preencher. Mas amar é ser visto, ser conhecido. Não é natural querer ser conhecida intimamente?
Não falo isso me referindo à intimidade física, pelo contrário. Para mim, a verdadeira intimidade é despertar interesse por partes de mim completamente alheias ao meu corpo.
Eu gostaria que todos fizessem perguntas detalhistas e reparassem em coisas quase imperceptíveis, como a forma que o Sol toca no meu cabelo diferente desde que eu pintei, ou por quê todos os momentos da minha vida parecem ter um padrão, mesmo que com acontecimentos diferentes.
Porém, eu sei que querer isso das pessoas à minha volta é demais. Para fazer as perguntas que eu gostaria que fizessem, teriam que conhecer aspectos meus que eu nunca me dei o trabalho de mostrar ou ressaltar. Não saio por aí me gabando sobre as coisas que admiro em mim ou pedindo para perguntarem sobre o que não têm interesse. Até porque o segredo para tornar uma conversa agradável para o outro é fazer perguntas, não pedir que façam a você.
Não posso reclamar, as pessoas da minha vida demonstram interesse e carinho por mim com bastante frequência. O que me incomoda é não saber o porquê. É claro que eu sei os motivos para eu gostar de mim, mas quem gosta de mim tem motivos diferentes dos meus. Nem sempre os motivos são claros. Quando você se torna amigo de alguém, não ganha uma cartilha dos 13 porquês da amizade.
Em momentos que minha autoestima não está tão boa, meus motivos para gostar de mim ficam embaçados, irreconhecíveis. As qualidades que eu pensei outrora que possuía, agora mostram sua verdadeira face. Se achando inteligente? Se fosse tão inteligente assim, não teria essa prepotência. Interessante? No máximo, um conjunto de interesses que parecem diferentes à primeira vista, nada além. Bondosa? Apenas precisa de uma desculpa por não saber impor seus limites. Empática? Vai ver você só gosta de se colocar nos sapatos dos outros para fugir dos seus.
E são nesses momentos que eu quero fugir de mim. Sair só um pouco, me ver de fora, vai ver assim eu consigo pegar emprestado os motivos alheios para me amar. Os meus motivos são traiçoeiros demais. Justamente por eu me conhecer como ninguém jamais poderia.
Mas não posso. Sou condenada a viver comigo todos os dias. Às vezes, isso é um alívio, que bom que eu sou eu! Outras vezes, nem tanto.
Só eu sei a melhor forma de me tratar. Eu sei minhas músicas favoritas, sei qual o prato que sempre peço no meu restaurante predileto, sei a quantidade exata de mostarda que gosto no sanduíche que faço quando estou cansada demais para me preocupar com calorias, sei quais palavras fazem minhas dúvidas sumirem e quais músicas eu ouviria em loop por horas.
Por outro lado, eu sei como tocar onde dói. O caminho é mais curto, já que eu não preciso de convite para entrar em mim. Ninguém sabe quais memórias ardem tão bem quanto eu, ninguém consegue me criticar com tanta precisão como meu olhar afiado, mais ninguém me confronta com a dureza que só quem me conhece por completo poderia.
Por isso, chega a ser incoerente desejar tamanho interesse alheio, já que não sei se seria capaz de entregar tanto poder sobre mim. Amar e ser amado é, acima de tudo, ser vulnerável. Apesar de ser Leão, não sou tão corajosa assim, no máximo, sou o leão de Oz.
Há momentos que eu não quero ter esse poder nem nas minhas mãos. É esmagador viver sabendo o meu potencial. Eu sei tudo o que posso me tornar, tenho capacidade se tomar as atitudes corretas. Mas esse conhecimento é só mais combustível para outro lado de mim me chicotear na expectativa de suprir minhas próprias expectativas. Eu sou meu próprio carrasco, seguindo uma sentença que eu mesma impus.
Tudo bem, tem dias que eu faço o carrasco rir, o distraio com o meu charme, a pena fica mais branda e a vida continua.
Queria sair de mim. Mas fico feliz em poder ficar.
♡ Indicações, bobagens e conversas paralelas
Aos subscritores: Mais uma vez, muito obrigada por acompanharem o que eu escrevo. Ver tanta gente interessante lendo meus textos me enche de alegria. Obrigada por todas as interações e pelo carinho!
O que ando fazendo: Vivendo entre escritório, faculdade e academia (tenho que passar minhas amigas no GymRats).
Fato sobre a autora: Pintei meu cabelo de castanho depois de 7 anos sendo ruiva.
Favoritos da semana:
Essa foto que tirei depois do meu filhotinho dar umas mil voltas correndo no campão
Expectativa para o restinho de mês: Viagem a São Paulo com minhas queridas e tentar não deixar a vida no escritório me enlouquecer até lá :)
estou me identificando taanto contigo!! vai ver signos são reais, pq tbm sou leonina