Antes de começarmos nossa troca de cartas, gostaria de agradecer aos 50 subscritores. Muito obrigada! Eu abro um sorrisão só de pensar que tem alguém, além dos amigos que eu obrigo, lendo o que eu escrevo. De novo, obrigada!
Acho relevante mencionar que essa é a terceira, repito, terceira vez que escrevo esse rascunho, porque perdi as outras versões. Mais do que nunca, precisamos de uma revolução analógica!
Hoje vamos falar sobre amor e arte. Duas coisas que eu gosto muito, se me permitem dizer. Adoro vários tipos de arte, desenhos, pinturas, filmes, livros, esculturas, colagens, fotografias… E gosto de quase todo tipo de amor que já me aconteceu.
Porém, apesar de amar a arte, não me considero artista. Desenho aqui e ali, mas falta constância, falta técnica, falta confiança, falta o olhar de um artista. Se eu não fosse eu, talvez me olhasse de fora e me achasse uma artista legal. Mas, infelizmente, eu sou. Nada de crachá de “artista” por aqui.
O negócio é que, de tempos em tempos, o inesperado acontece: eu amo.
Amar - (verbo transitivo direto)
Ter amor, afeição ou ternura por; querer bem a.1
O verbo amar precisa de um complemento, e o objeto do meu verbo amar geralmente era alguém. Não me leve a mal, eu também amo coisas, amo meus hobbies, amo bichos. Mas amar alguém me traz uma intensidade diferente, é quase como uma nova categoria de amor.
Quando começo a amar alguém, algo na minha vida muda. Alguma chave vira na minha cabeça e muitas percepções sobre mim mesma se transformam. Minha vida se molda para ser uma pessoa mais interessante, ou lembrar que eu sou. Agora, eu aprecio meus hobbies, lapido meus atos, rebusco minhas histórias, melhoro minhas playlists, viro o olhar para cada uma das minhas qualidades como se, assim, o outro consiga ver também.
E o que isso tem a ver com a arte? Quando eu amo, esqueço que não sou artista.
Assim que começo a gostar de alguém, minha cabeça é preenchida com ideias. De repente, fico cheia de energia, movida a fazer algo para alguém que eu amo. O medo de criar é substituído pelo medo de ser esquecida, e, com esse pequeno truque, fiz a maior parte das minhas artes.
Não tenho a pretensão de discorrer sobre os motivos de criar majoritariamente para outra pessoa, ou sobre a possível análise psicológica que esse fato renderia. Só quero mostrar algumas das coisas que já fiz por amor.
Uma história em quatro atos
Sempre gostei das tatuagens do meu namorado, ele não sabe, mas eu ficava admirando-as como uma adolescente que acaba de ver seu cantor favorito. Acho elas tão bonitas, tão legais, me trazem uma sensação juvenil que só poderia ser descrita como borboletas na barriga.
Eu tenho minha favorita, não quero ser clichê, mas eu adoro uma tatuagem em formato de coração. E a dele é um cinzeiro em formato de coração, com dois cigarros dentro. Além de gostar da estética da coisa, acho o ato de dividir um cigarro com o companheiro um dos mais românticos que existem. Infelizmente, o querido não pensa o mesmo, ele gosta de fumar o cigarro inteiro.
Enfim, entre um encontro e outro, tive a ideia de tornar uma das tatuagens dele algo tangível, tridimensional. E não poderia ser outra, decidi tornar aquele desenho em um cinzeiro real.
Não lembro ao certo se alguma data especial estava por vir, mas acho que não. Numa sexta-feira qualquer, limpei minha agenda e pus a mão na massa. Juntei argila e algumas tintas e fui pelo feeling. É claro que eu não tinha experiência nenhuma em modelar, mas isso era detalhe.
Realmente, era detalhe, consegui fazer um cinzeiro bem bonitinho. Nem lembrava desse detalhe… até deixar o cinzeiro cair no chão e vê-lo se espatifar na minha frente.
Parecia que meu mundo tinha caído, no momento que aquele pedaço de argila tocou o chão, minhas lágrimas começaram a descer. E só pararam porque eu precisava manter minhas mãos secas para consertar a besteira que tinha feito. Consertei, ele adorou!

Traços e muitos gatos
Em 2020, comecei a desenhar. Na época, fiz muitos desenhos na empolgação de ter um novo passatempo. Depois da alguns desenhos e algum tempo de estudo, a comparação com outros artistas e o medo do julgamento externo foi crescendo, logo, passei a desenhar só quando queria presentear alguém especial.
Esses dois gatinhos foram o início desse hábito. E, por mais que eu gostaria de conseguir desenhar sem precisar ter uma desculpa como “dar de presente”, é confortável desenhar assim. É mais fácil encontrar a inspiração se a referência é alguém que você ama. Desenhar para alguém tira um pouco da pressão do negócio, afinal, agora só uma pessoa teria que gostar. Eu lembro de ter ficado bem satisfeita com esse desenho. E confesso que me senti um gênio por ter feito esse detalhe na tampa do Cup Noodles, mesmo com meu ex me falando que desenho digital era a coisa mais fácil do mundo. Bom, tomara que ele não tenha deletado o presente…
Ainda na linha dos gatinhos, fiz esses dois gatinhos. Na minha cabeça, eles estão se casando, apesar de serem gatos e de estarem na pia. Era um presente para essa mesma pessoa, mas não tive coragem para entregar como um presente, agi como se fosse um desenho qualquer (e ele também).
Uma hora ou outra eu teria que desenhar algo além de gatos, até porque era uma realidade distante, já que eu nunca nem tive um gato. Passei um dia brigada com um garoto, e, na época, não tinha muito com o que ocupar a cabeça. Era ir para uma balada insalubre ou desenhar. Como ainda era terça-feira, comecei a desenhar.
No dia seguinte, fiz as pazes com ele. Achei o desenho clichê, sem intensidade, sem porquê. O relacionamento acabou tempos depois pelo mesmo motivo.
Esse é um dos poucos que não me arrependo de ter feito. Fiz para minha mãe, um dos amores da minha vida. Nada mais justo do que ele ter seu espaço aqui.
O ying-yang a la Tom & Jerry é o mais recente. Surgiu porque um dia postei no Twitter (rip) que meu sonho era ver algum desenho meu tatuado em alguém (e ainda é). Meu namorado viu isso e me disse que tatuaria algo que eu desenhei. Desde então, muitas ideias surgiram, nenhuma boa o suficiente. A única que eu coloquei no “papel” foi essa. Tenho uma relação agridoce com esse desenho. Gosto, mas não é bom o bastante. Ele disse que gostou, mas acabou não fazendo por parecer tatuagem de casal. Não julgo.
Menção honrosa
Fugindo um pouco da categoria arte, temos essa fornada de cinnamon roll. Não vamos entrar no mérito da culinária poder ser uma arte, mal considero meus rabiscos, quem dirá minhas brincadeirinhas na cozinha.
Numa sexta-feira nublada em 2022 (tudo sempre acontece numa sexta), meu grupo de amigos queria ir para uma balada péssima, mas tudo com álcool e amigos fica mais tolerável. Meu romance da época convenientemente ia pra essa balada com meus amigos. Assim que soube desse detalhe, uma lâmpada acendeu na minha cabeça tal qual um desenho animado. Tive a brilhante ideia de chamar o pessoal para um “esquenta” lá em casa, e, é claro, que falei para o Querido chegar uma hora mais cedo.
Convites aceitos, tinha que pensar em algo para criar uma boa lembrança, algo para impressionar, algo para agradar. Foi assim que passei três horas fazendo uma travessa de cinnamon roll, sem nunca ter feito nada de confeitaria na vida.
O resultado? Ele nem encostou. Não deu uma mordidinha no cinnamon roll. Mas meus amigos adoraram.
É mais fácil ser artista quando se está amando?
Sim, para mim, é. Mas eu queria que não fosse. Não quero desenhar só para presentear alguém, não quero ser inundada de energia só quando quero impressionar. Gostaria que minha motivação para criar fosse impressionar a Carolina de 10 anos, não algum cara. Mas, infelizmente, não posso fingir que é. Por enquanto, é assim que eu sou. Pelo menos, os desenhos ficaram legais e o cinnamon roll gostoso, ninguém precisa saber meus motivos (shhh, não conta para ninguém!).
Me conta sobre você, quais são suas motivações para criar? Eu vou adorar saber!
Amar | Michaelis On-Line. https://michaelis.uol.com.br/palavra/4130/amar/
Já passei pela fase de criar algo enquanto estava amando, depois pela dor e acho só observando o mundo a minha volta. Essas três coisas ainda me dão inspiração ao longo dos dias, hoje é tudo uma mistura que me faz criar algo.
caroooool, hoje estava indo escrever a news que precisa sair hoje, mas me veio um pensamento: "faz um século que não leio a carol", então eu vim ler essa news maravilinda. eu estou com o título dela na cabeça desde que você publicou!!
a gente é muito parecida no quesito seres criativos que não se assumem kkkkkkkkk você, que nem eu, é uma artista no armário, juro. olha o tanto de coisa que você já criou, e agora tem as newsletters também!
para você ter uma noção, dois anos atrás eu comecei a publicar colagens no instagram porque eu estava muito entediada com a forma como eu não tinha fotos interessantes do jeito que eu queria. então na minha visão, eu só estava tornando minhas fotos interessantes, nada mais. mas ai todo mundo começou a falar das minhas "colagens", que eles amavam, e quando eu publicava alguma com algum amigo eles agiam como se tivessem sido publicados na página de alguém famoso. diziam coisas absurdas tipo "mds eu apareci nas colagens!!".
mesmo assim, eu pessoalmente não chamava o que eu publicava de "colagem" ou "arte". na minha cabeça, por ser fotos minhas para mim (e para amigos/familiares), não fazia sentido nenhum chamar de arte. demorou muuuuuito para eu aceitar, minhas irmãs já estavam a séculos falando para quem quisesse ouvir que eu era uma artista e eu era muito talentosa (porque elas são fofas assim, e meio iludidas tadinhas).
hoje em dia, se eu falo que sou artista, é mais "tô jogando aqui e fingindo que nada aconteceu *sai correndo*".
de qualquer forma, amei o texto, e amei conhecer você melhor!!